segunda-feira, 1 de março de 2010

Kirai - Ódio


"Kirai", na verdade, apesar de se passar em um ambiente colegial, é claramente um josei. Na minha opinião, é uma das obras mais realistas que já vi em relação a separação amor, amizade, compromisso e sexo. Como a temática do sexo é amplamente abordada e há cenas que insinuam certas coisas, eu recomendaria esse mangá para maiores de quatorze anos, embora, em fatos, não tenha nenhuma cena que faça você ficar morrendo de vergonha ou algo assim.
A história de "Kirai" começa nos mostrando as vidas - praticamente paralelas - de Hanada e Matsumoto, dois estudantes colegiais que são da mesma sala. Hanada mistura traços russos e japoneses, sendo bastante atraente e, portanto, popular com as garotas. Ele aproveita-se disso para dormir com várias delas.Enfim, ele gosta de fazer sexo com as mulheres, mas detesta a personalidade delas, pois acredita que elas demonstram valores que, em fato, não possuem, não sendo dignas de confiança. Para provar sua tese para si mesmo e - às vezes- para os outros, ele envolve-se com mulheres comprometidas, que aparentam estar apaixonadas por seus namorados e até mesmo com a namorada de seu melhor amigo. Apesar de tudo, ele é bastante honesto. Ele deixa claro em seus relacionamentos, que quer apenas sexo e nada mais. As mulheres aceitam e ele prossegue sua vida assim.
Matsumoto, aluna da sala de Hanada, é exatamente o oposto dele. Ela nunca beijou, e é virgem. Ela não permite que nenhum garoto se aproxime, pois ela já gosta de seu senpai, e leva seus sentimentos a sério. Entretanto, mesmo sendo pura, Matsumoto tem uma personalidade forte, agressiva e independente e é isso que a faz desprezar Hanada.
Hanada sente-se interessado em saber por que aquela garota o odeia e acaba descobrindo que uma das amigas dela contou uma versão errônea do envolvimento que ambos tiveram. A partir deste incidente, ela chama a atenção dele, que passa a implicar com ela, chegando a roubar o primeiro beijo dela para tentar fazê-la chorar- o que não acontece, já que ela simplesmente o estapeia e o chama de traste. Com o tempo, em uma ironia do destino, eles descobrem que a mãe dela se casará com o pai dele, e os dois botam suas diferenças de lado para uma convivência "pacífica".
Como os dois passam a conviver, Matsumoto começa a entender a real natureza de Hanada - que não é tão cruel quanto aparenta - e passa a agir como uma mãe, cuidando dele e dando broncas quando ele faz coisas erradas. Ele, por sua vez, apesar de continuar implicando com ele, passa a agir de forma secretamente gentil em relação a ela. Nesse relacionamento, Matsumoto, um dia, descobre-se apaixonada por ele, mas como lidar com isso? O Hanada continua sendo um traste que não compreende as mulheres e que dorme com várias delas, por diversão. Na dúvida, ela finge não ter esses sentimentos. Já Hanada não consegue compreender se ela gosta dele ou não e fica terrivelmente aborrecido, embora, teoricamente, não haja nenhuma razão para isso.
Essa história, no meu ponto de vista, é bastante realista, pois nós vemos pessoas que terminam com seus namorados e voltam, pessoas que terminam e não voltam, pessoas que dormem com outros por diversão, pessoas que dormem com alguém, porque, no fundo, possuem alguma expectativa que a pessoa a ame, pessoas que dormem com alguém, porque, no fundo, apenas querem estar com quem amam, mesmo que seus sentimentos não sejam recíprocos, pessoas que traem por confusão, pessoas que traem por puro desejo...Enfim, a realidade. Não o mundo usual do shoujo, onde todas as garotas de dezessete anos nunca foram beijadas, são motivadas somente por amor, o único relaciomento possível entre um homem e uma mulher é amizade ou namoro...
Além do realismo que intensifica a tensão da história e sua construção, os personagens de "Kirai" são psicologicamente bem construídos, a história tem reviravoltas inimagináveis - e não estou brincando ou exagerando quanto a isto - e os relacionamentos são bastante interessantes e os acompanhamos fervorosamente. É um josei e tanto.
O Hanada, personagem odiado por muitos, na minha opinião, é o personagem mais interessante do mangá. De certo modo, ele me lembra o "Primo Basílio", sendo que ele não é dissimulado e é bastante franco em suas frases e ações. Além disso, você nunca consegue imaginar como ele vê certas situações e, muitas vezes, você espera que ele vá dizer algo e ele diz alguma coisa completamente diferente do que você esperava. E você não sabe dizer se ele disse isso para manter uma fachada em relação ao que realmente pensa, ou se ele realmente pensa assim. É uma história incrível e que, apesar do ritmo lento inicial, intensifica-se de modo viciante. Vale a pena acompanhar.